Passavam das onze horas da noite na cidade de Londres, a qual recebia uma chuva torrencial que colocara todos os moradores em suas casas. Ou pelo menos quase todos. Uma figura alta caminhava sem preocupações com a saúde e as vestes que chegariam encharcadas em casa, usava os restos de uma edição do Lady Whistledown para tapar o que conseguia da cabeça. Seu nome era Tom Ford e ele foi a primeira vítima conhecida de uma série de assassinatos que tomou conta de Londres em 1814.

Na manhã seguinte, seu corpo foi encontrado sob um túnel que ligava a parte rica da parte nobre da cidade. A cena foi isolada da melhor forma possível, mas ainda assim não contivera os olhares curiosos de uma certa escritora, que tomava notas mentais de tudo a sua volta, enquanto era cercada por outros tão necessitados daquela história quanto ela.

O cadáver de Tom Ford – que ela descobriu quem era pelos gritos chorosos de uma esposa – estava quase completo. Haviam partes insignificantes faltando, que numa emergência poderiam ter sido remendadas e o homem teria sobrevivido. A orelha. O anelar esquerdo. E o membro. Não havia sido uma morte acidental ou por duelo, como era de praxe quando se atraíam por moças de respeito. Era um assassinato, e um que intrigava Lady Whistledown.




Aquela foi a primeira das sete mortes que ocorreram entre Mayfair, Marylebone, Kensington e Notting Hill, num período de quinze dias, à beira do início da Alta Temporada. A cidade se mantinha em alvoroço e muitas mães pensavam em não deixar que suas filhas ingressassem no circuito naquele ano, contudo, a Rainha Consorte Victória Alexandra assegurou a todos que não haveriam mais mortes em seu reino. Logo, a temporada permaneceria com seu início marcado para o dia 05 de Abril, com o baile de introdução, onde cada moça que estava a procura de um marido, deveria apresentar-se para a Rainha. Após a apresentação, seguiriam todos para os jardins reais, onde haveria um chá.

O palácio estava em total agitação desde o anúncio de que as coisas seriam mantidas daquela forma, todos os criados enchiam a realeza com perguntas, questionamentos e temores, mas Victória era um poço sem fundo de paciência, ao contrário da Princesa de Gales. Brianna Windsor-Merina era impaciente, indelicada e não mantinha a melhor das imagens perante o povo depois de seu primeiro casamento e mesmo que não quisesse, ainda tinha de prestar suas obrigações reais nos bailes.  Era filha do Rei com a Princesa Zuri Amara de Merina, que tiveram um belo casamento até que a Princesa falecerá em decorrência de uma doença. Como Rei, Guilherme não pode se manter sem uma Rainha por muito tempo, foi quando conheceu Victória Alexandra McQuinston, em menos de dois meses estavam se casando.

Mas Guilherme era como uma gelatina, colorido e inútil. Victória era quem tomava as grandes decisões, ele assinava em baixo. Logo, a tarefa de guiar a Princesa Herdeira ficara com a Rainha Consorte. Assim como todos os eventos reais.



Uma jovem trajada com vestes claras foi vista ultrapassando os limites das faixas de segurança na cena do crime, a vítima agora era o jovem Demétrius Doomsday, que vendia joias inigualáveis. Seu corpo apresentava o mesmo modus operandi dos outros seis: sem orelha, sem anelar esquerdo e sem o membro. O detetive chefe, Jessie Harrison, se encontrava na cena, ao seu lado o detetive Benjamin Thompson, ambos discutiam o sentido de todas as mortes terem sido sobre túneis escuros e não apresentarem nenhuma diferença. A jovem que se aproximou, colocou-se entre os dois homens altos e os pegou de surpresa, arrancando não só um susto, mas também uma repreensão por ter ultrapassado os limites impostos.

Contudo, a mesma trabalhava como secretária para o médico-legista de Paris, que finalmente enviara para eles a autópsia do primeiro corpo: morte por envenenamento, especificamente por arsênico. Não restavam mais dúvidas de que era tudo resultado de um assassino em série, mas o Rei não estava interessado em dar suporte, nem sequer solucionar o problema, para ele, nada passava de uma mera brincadeira que sumiria em um mês ou dois.
A Rainha por sua vez, informava a todos que fornecia suporte a polícia e estava dando um jeito no problema, quando na verdade, receber os detetives para um chá onde os ameaçara a ficarem quietos. Não queriam toda aquela péssima imprensa sobre a monarquia, nem sobre Londres.